sábado, 26 de maio de 2012
Polaroids (Foto e texto: Ricardo Onofrio)
Acordou perdido no escuro e com apenas uma fração de memória não conseguiu montar o trajeto que o levou ate ali.
Ainda sem abrir os olhos, cerrados pelo torpor e seqüelas da noite anterior apoiou-se nos outros sentidos já despertos.
O som que ouviu era de água.
O cheiro denunciava um erro prestes a ser descoberto.
O tato comprovava o terror de estar no local errado, úmido, imundo e longe do ideal e segurança de um lar onde todos o esperavam.
Descolou as pálpebras com desespero.
O que era turvo começava a clarear e agora era tarde para voltar.
O que viu foi o deserto da manhã, deitado sozinho em uma praia, sem nome, amigos e nem uma gota de memória.
Sofregamente levantou vestindo trapos que não eram seus.
Olhou em volta e não havia gente, casas, vozes, apenas ele, o mar e a dúvida.
Caído ao seu lado um envelope molhado, dentro dele Polaroids de rostos que um dia foram familiares, todos desolados, no canto da foto a data era a da noite que passara.
Havia raiva e decepção no olhar de cada um daqueles fantasmas estampados no papel.
Entendeu que fora abandonado ali sozinho e o esquecimento só ajudava a piorar tudo.
Deitou novamente, fechou os olhos com força e esperou acordar longe daquele pesadelo.
Um pedaço de pano cobria algo deitado na praia, tocou-o com a ponta dos dedos e o que havia embaixo era gélido, macio e inerte.
A mais bela mulher da foto jazia ao seu lado.
Levantou atordoado e na areia que se estendia até encontrar o morro, lado a lado, todas aquelas fotos saíram do papel e agora posavam estáticos como oferendas deixadas na areia esperando que o mar as levasse.
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